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terça-feira, 13 de março de 2012

Meu Pai, Até o Dia do Nosso Reencontro... Te Amo!!!

Aos cinco dias do mês de março do corrente ano, data regida por Nana, Deidade que meu Pai tanto amava e venerava, Olodunmare pediu que cessassem as chuvas de São Paulo. A Cidade da garoa revestiu-se com o fulgor do sol, resplandecendo sobre nós, o brilho de um dos seus filhos mais digno e probo, que chegava aos pés do Criador com louvor. Aos 56 anos de idade, morre o Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo.
Em verdade não poderia ser diferente, ao passo que ao longo da sua vida, meu Pai, abrilhantou com suas palavras, gestos e atitudes, cada pessoa com quem teve contato, cada pessoa que orientou, cada pessoa que ajudou sem olhar a quem... No dia de sua chegada ao Orùn, o céu não podia chorar, mas sim, recebê-lo em meio à luz que o norteou a vida inteira...
Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo no Agbo de Òsóòsì.

Isto posto, os raios de sol que anunciaram a morte física do meu Pai, são os mesmos que o direcionaram em sua vida social e religiosa, o impulsionando a tornar-se não somente um grande Babalòrìsà, mas, sobretudo, um Homem sem-par, íntegro e de valores retilíneos; espelho para a comunidade, para os filhos espirituais e para os filhos consangüíneos.

Conforme apregoa a Religião dos Òrìsàs, seu corpo foi velado no barracão da Sociedade Ilé Alákétu Asè Ibùalámo, casa fundada por ele e que tanto lutou para construir. Pela primeira vez, o salão festivo de Ibùalámo, estava em luto, sem bandeiras, sem retratos, sem alegria. No ar, somente uma leve brisa que pairava sobre nós, era o sinal de que seu espírito permanece vivo, desta feita, olhando por nós, de um plano muito superior ao que vivemos aqui no Aye, meu Pai está no Orùn.
Confesso que deparar-me com aquele barracão, palco de discussões dos assuntos da comunidade que meu Pai liderava com afinco, palco do Agéré insigne de nosso Pai Ibùalámo dançando com suas bilalas, foi desolador. Jamais o verei dançando novamente sua cantiga predileta “Arawara Tafa Rode”, momento em que todos nós sentíamo-nos em uma verdadeira caçada africana. Entrar ao barracão e não olhar para os Atabaques que Ibùalámo abençoou, que fez questão de dançar para todos os Òrìsàs, foi desesperador, a ficha começou a cair, não verei novamente meu Pai aqui no Aye, ele está no Orùn. Foto: Barracão do Ilé Ibùalámo.

A noite debruçava-se sobre nós, os amigos da religião e da comunidade chegavam indignados com aquilo que parecia ser improvável. Afinal, há exato um mês, meu pai dançou naquele mesmo barracão em louvor à Òsanyìn e a menos de dois meses para Iroko. Todos, inconformados diziam: “Como? Um homem tão bom! Não pode ser verdade”.
Ao longo da madrugada muitos foram despedir-se do Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo, ou do “Zé”, como era carinhosamente chamado por muitos amigos ou ainda o “Seu Zé”, modo que as pessoas da Comunidade o chamavam...
Crianças, muitas crianças entravam ao barracão e, diante do caixão, choravam copiosamente, a morte do “Seu Zé”, homem que lutou por elas, que lhes oferecia cursos, educação, entretenimento e, sobretudo, atenção, muitas vezes atenção essa não encontrada em seus lares. Aquelas crianças não enxergavam a morte de um Sacerdote Religioso, mas sim, a morte de alguém que olhava por elas, independente do credo ou raça. Isso sim é ser Sacerdote! Foto: Aulas de Capoeria no Ilé Ibùalámo.
Muitos adolescentes ao chegar de seus serviços, também entravam pasmos na casa em que eles estudaram, tocaram, dançaram e aprenderam a ser cidadãos. Um deles se aproximou de mim e disse:

Vinicius, lembra de mim? Fui seu aluno na banda! vim lhe dar um abraço e meus sentimentos, pois se hoje eu tenho um trabalho devo ao Seu Zé. Estudei na creche dele, participei da banda dele, minha mãe pegou leite dele e, quando meu Pai morreu, foi ele que nunca deixou faltar nada na minha casa. Ele conversava com agente, falando que agente tinha que estudar e trabalhar. Se hoje eu não sou um drogado eu devo a ele. Você perdeu o seu Pai e nós perdemos nossa estrutura”.

De fato meu Pai foi a estrutura para aquela Comunidade. Todas as benfeitorias básicas do bairro foram conseguidas por intermédio e pleito dele e, de sua incansável busca em melhorar a qualidade de vida daquela população. Hoje, posso dizer tranqüilamente que, por meio do meu Pai a comunidade conseguiu água encanada, luz elétrica, esgoto, leite, dentre muitos benefícios, difíceis de enumerar aqui... Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo e a então Prefeita de SP, Marta Suplicy.

Um senhor de idade bastante avançada e muito humilde, rodeou o caixão algumas vezes, até que com a voz embargada desabafou:
“E agora, o que vai ser da gente? Esse homem sempre lutou pela gente, trouxe luz, água, asfalto, leite, tudo foi ele. Seu Zé era o nosso Deputado, ele que cuidava desse povo, ele foi o nosso Presidente e agora? estamos todos sem o nosso Deputado Seu Zé”.
Não sabia esse senhor que, ao lado dele, também se despedindo, estavam dois Deputados e um Vereador, ambos admirados e respeitados pelo meu Pai, parceiros nas batalhas pelo bairro. Eles ouviram atentamente as palavras daquele senhor, expressando sua gratidão sincera ao homem que lutou contundentemente por eles, bem como, sua preocupação com o futuro da comunidade sem a liderança dele. Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo e o Deputado Enio Tatto.
 

A preocupação daquele senhor era comum em todos que iam até a minha irmã Gabriela, que esteve ao lado dele sempre e indagavam: “Gabi, como vai ser? Vocês vão continuar com a distribuição de leite? Com os projetos? O Telecentro vai continuar né? Pelo amor de Deus, vocês não podem parar com tudo isso não, agente precisa disso!”. Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo liderando sua comunidade.
Naquele momento tive a certeza que, mesmo com a dor de perder nosso Pai, nem eu nem minha irmã podíamos chorar. Sim, precisávamos como ainda precisamos de colo, mas ao nosso lado, muitas pessoas também precisavam e precisam de nossas palavras de apoio. Eles também perderam... Seja o Pai, seja o Amigo, seja o Líder Comunitário, cada um, perdeu um pouco do nosso Pai, um pouco do Seu Zé.
Sim, meu Pai foi um Babalòrìsà expressivo dentro de São Paulo, preservou com determinação a cultura pujante que trouxe do recôncavo da Bahia onde nasceu e se iniciou pelas mãos de minha avó Maria de Nana. Consolidou aqui, fortes raízes religiosas e tradicionais nesta terra, erigindo um Candomblé Ortodoxo Baiano. Mas, não posso olvidar que, a paixão que meu Pai tinha em suas ações sociais e políticas são intangíveis. A coisa que mais deixava meu Pai feliz era ver um projeto social em andamento. E foram muitos: Creche Ilé Ibùalámo, Banda Oluwa, Grupo Cultural Oluwa, Cursos de Panificação, Corte e Costura, capoeira, Karate, manutenção de micro-computadores, culinária, distribuição de roupas, cobertores, sopão, etc... Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo na Inauruguração do Telecentro Ilé Ibùalámo II.

Com muita luta, o Ilé Alákétu Asè Ibùalámo, foi o primeiro Terreiro de Candomblé do Estado de São Paulo, a manter um Telecentro em seu espaço físico; o Telecentro Ilé Ibùalámo. O sucesso foi tamanho que meu Pai implementou o Telecentro Ilé Ibùalámo II e deixou tudo encaminhado para o Telecentro Ilé Ibùalámo III. Foi também, o primeiro Terreiro de Candomblé do Estado de São Paulo a manter uma Biblioteca Comunitária, a Biblioteca Comunitária Rosalvo Santana, em homenagem ao meu Avô. Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo na Inauguração do Telecentro Ilé Ibùalámo.
Preocupado com a manutenção da cultura, ministrava palestras aos filhos de santo do Terreiro, explicando sobre a tradição dos Òrìsàs. Confeccionava pessoalmente a roupa de Ibùalámo e, paramentos de muitos Òrìsàs da Casa, principalmente os detentores e transformadores de Asè, como Sàsàrà, Ibìrí e o Arakole. Esses objetos, que representam a mais pura hierofania, ele não abria mão de confeccionar pessoalmente, realizando inclusive diversas exposições sobre o tema. Sempre proferiu que sem folha não há Òrìsà, razão pela qual, fez questão de ter em nossa casa, árvores como Iroko, Atori, Odan, Orogbo, Obi, Araba, Baobá, Akoko, Ipesanyin e ervas como Ogun Onire, Ojusaju, Ogbo, Oba Iya, Werenjeje, Sawerepepe, Etipon-ola, Tete, Semin-Semin, Ewe Iya, dentre muitas... Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo na sua exposição: Miçangas dos Deuses.

Meu Pai foi um homem querido pelo seu povo, pelo povo da comunidade que admirava e respeitava como seu líder, independente da religião. Prova disso, foi a visita no velório, de um grupo de senhoras da Igreja Católica, que fizeram questão de rezar uma ladainha em homenagem ao meu Pai. Elas sabiam que meu Pai era Babalòrìsà, não sincrético, mas elas disseram:
“Esse homem foi muito bom para essa comunidade, todo mundo fala que tudo que temos aqui, foi o Seu Zé que lutou para termos. Temos certeza que Deus está muito contente com tudo o que ele fez aqui na terra”.
E realmente meu Pai era assim. Nunca nutriu preconceito contra aquelas senhoras, que muitas vezes, passavam pela rua, com uma imagem de um santo, rezando a ladainha e ele ficava ouvindo e achando bonito. O respeito era tamanho que, certa vez, quando meu Pai foi internado, o grupo de católicos do bairro, fez uma promessa que se ele ficasse bom, todos iriam agradecer na Igreja de Nossa Senhora Aparecida. Após o retorno do meu Pai, em um dia de festa, acho que de Ògún salvo engano, eles foram à roça e falaram: Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo na Casa Branca do Engenho Velho, casa que amava.
“Seu Zé, nós estamos indo para Aparecida com os ônibus e o Senhor tem que ir com agente: Meu pai disse: Oxente, vocês se esquecerem que eu sou Babalòrìsà de Candomblé? Elas responderam: Não Seu Zé, agente sabe, mas é que nós fizemos uma promessa que se o Senhor ficasse bom, o Senhor ia com agente até Aparecida, agora o Senhor tem que ir... Meu Pai caiu na risada agradecendo...”.
Ele realmente conseguiu isso, diminuir distâncias sejam sociais, sejam religiosas, tudo por meio do “oxente” e do sorriso fácil. Mas para ele todos eram iguais, sem distinção. Fundamentou a Sociedade Ilé Alákétu Asè Ibùalámo em laços familiares. Para ele, os filhos de santo eram extensão de sua família, tão filhos dele quanto eu e minha irmã. Há famílias inteiras na roça (Pai, Mãe, Filho, Neto). Tinha orgulho em dizer que o Ilé Ibùalámo era um Candomblé de Família: Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo em meio a sua Família, o ègbé Ibùalámo.
 
Meu Candomblé é Candomblé de Família, pode trazer as crianças para cá, porque aqui tem respeito e elas serão tratadas com carinho e amor. Candomblé não é lugar de bagunça. Se é uma Religião, tem que ser um ambiente familiar. Religião é Religião. Podem falar que aqui é a Casa dos Baianos chatos, não me importa, o que importa é o Òrìsà. Não faço Candomblé pra público, faço Candomblé para o Òrìsà e pro meus filhos. Pode ter uma só pessoa, mas se essa pessoa estiver com amor ao Òrìsà eu vou estar feliz”. Foto: Giovanna, a neta do Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo, vestida de baiana.
Há mais de 10 anos, resolveu que todas as festas seriam a tarde, pois dessa forma, as crianças podiam ir tranquilamente, bem como, as pessoas idosas. Adorava ver crianças no Asè e não admitia que alguém as maltratasse: “Você é louca? Onde já se viu bater em criança, eu vou chamar a polícia para você. Se você bater nessa menina de novo eu pego ela pra criar aqui na roça e você não vai mais chegar perto dela, é isso que você quer? Onde já se viu uma mãe bater assim na filha, eu te boto na cadeia”.
Em verdade, meu Pai foi um homem como poucos. Gostava de crianças em sua casa, gostava de gente, adorava seus filhos de santo. E, a vocês, filhos de Santo de meu Pai eu vos digo: Vocês são tão filhos do meu Pai, quanto eu e minha irmã Gabriela. Meu Pai amava a cada um de vocês. Entendemos a dor de cada um, sabemos que todos estão sofrendo a mesma dor. Nosso Pai sabia exatamente como era cada um de vocês. Nosso Pai foi um homem tão diferente, tão singular, que ele gostava mesmo dos filhos de santo que se afastaram, os que saíram do Asè. Não tenham dúvidas: Vocês serão sempre filhos do Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo. Não tem pessoa nesse mundo, que tire do Ori de cada um de vocês, a boa mão, de saúde, felicidade e prosperidade que meu Pai colocou. Sobre isso, ele falava sempre, alto e em bom tom aos finais das festas: Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo e seus filhos Gabriela e Vinicius.
“Quando Olodunmare me chamar podem ficar despreocupados, pois filho meu nenhum tem que tirar mão nenhuma. Pois o que eu coloquei só vai sair quando cada um de vocês se for. Não falo pelo o Asè dos outros, pois cada um tem uma tradição, falo pelo meu Asè, o Ilé Alákétu Asè Ibùalámo. Aqui, filho meu nenhum tem que tirar mão nenhuma...”. Aos filhos de santo do meu Pai, reafirmo suas palavras: Omo Òrìsà nenhum do Ilé Alákétu Asè Ibùalámo tem que tirar mão nenhuma. A mãe do meu Pai foi e ainda será muito boa para cada um de vocês, acreditem no poder do nosso Pai Ibùalámo!!! Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo diante do Oparere de Ibùalámo, sua foto predileta.

Mas meu Pai foi assim sempre. Pouco se importava com a opinião dos outros, para ele, importante era a opinião dos Òrìsàs que estiveram ao seu lado até os últimos dias de sua vida, sem jamais o abandonar.
Somente esse ano, meu Pai iniciou 13 Omo Òrìsà, novamente não por caso, o número de Nana, que tanto amava. Menos de dois meses antes de sua morte, realizou e dançou a festa de Iroko, na qual toquei o último Agéré para meu pai Ibùalámo. Sempre que nosso Pai vinha à terra, ele sempre cumprimentava a todos, sem distinção; filhos, visitas, assistência, todos... Nesse dia, ele veio e partiu sem se despedir de ninguém, como nunca havia feito, somente nós não percebemos... Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo e os últimos Ogans confirmados por ele, em Fev/12.
Exatamente um mês antes da sua morte, realizou a festa de Òsanyìn, talvez uma das Divindades que mais cultuou em toda a sua vida. No final da festa, Nana aproximou-se dele, enxugou-lhe as lágrimas que não escorriam, fez um carinho em seu rosto e lhe deu um abraço muito demorado. O Òrìsà que ele mais venerou depois de Ibùalámo, veio se despedir daquele que ela também amava, novamente somente nós não percebemos...
Hoje, refletindo sobre a morte do meu Pai e, também respondendo a tantas perguntas inoportunas, de pessoas que não tiveram a comiseração e perscrutaram a nós seus filhos, todos os detalhes do fatídico acontecido, não respeitando sequer as exéquias as quais lhe foram prestadas, posso afirmar tranquilamente: “meu pai venceu um câncer na medula óssea”!!! Homem forte e determinado lutou com garra contra uma doença incurável (Mieloma Múltiplo), superando em dois anos, todas as expectativas de vida que haviam lhe dado. Logo, meu Pai venceu o Câncer incurável...
O Òrìsà e suas Divindades (Boiadeiro e Marujo) jamais o abandonaram e ele, jamais abandonou sua fé, inabalável e irrefutável. Há três anos meu Pai fez um transplante de medula óssea (autólogo – o mesmo que o ator Reynaldo Gianecchini passou, inclusive com o mesmo médico). Esse transplante ocorreu exatamente no dia 23 de Janeiro, dois dias antes da festa de Iroko. À época, meu Pai chamou-nos (Eu e minha Irmã Gabriela) e disse: Depois de amanhã, vocês façam tudo nos pés de Iroko, como se eu estivesse lá, só não vai derramar ejé, coloquem bastante Egbo nos pés da árvore. Eu e minha irmã, fomos contra, dizendo que como íamos fazer qualquer coisa, se ele estava internado, sem poder sair do hospital. Ele de forma muito serena nos respondeu: “Quando eu for para o Orùn, vocês vão deixar de cultuar Òrìsà só porque eu não vou estar presente”? Mesmo com o coração na mão, por ele não estar presente, nós realizamos todas as obrigações conforme sua vontade... Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo, logo após ter realizado o transplante de medula óssea.
 
A princípio indignou-me aquilo que acreditava ser uma morte precoce, hoje penso diferente. Meu Pai era velho sim! Morreu Agba sim! Não se enganem com a idade cronológica, e pensem sim na idade vivida, de experiência e, principalmente de realizações. Meu Pai partiu para o Orùn, deixando realizações que pessoas jovens no alto de seus 90 anos não conseguiram efetivar. Quando da descoberta da doença eu e minha irmã Gabriela nos perguntamos: “Como nosso Pai pode ter uma doença que acomete, em sua grande maioria, velhos e negros”? Hoje, com melhor discernimento, posso te dizer minha irmã que tanto amo: “Nosso Pai era Velho e Negro”. Jovem de espírito e de alma como ele sempre dizia (Eu sou Jovem!!!), mas com realizações que somente alguém na mais avançada idade consegue, além disso, um homem negro sim, que deu aos filhos a herança da religião dos negros, acreditando em Deuses Negros, em toda uma cultura negra. Foto: Babalòrìsà José Carlos de Ibùalámo diante do Oparere de Ibùalámo.

Findo esse texto com a certeza única que meu Pai é vivo, é imortal e eterno como ele mesmo sempre nos disse. Pois à exemplo dele, eu também não acredito na morte. Acredito sim, que o Òrìsà Ikú nos leva do Ayè encaminhando-nos novamente para o Orùn, onde tudo começa e recomeça. Onde iremos reencontrar àqueles com quem convivemos, até que, estejamos prontos para novamente cumprir/continuar nossa missão aqui no Aye. E jamais se esqueçam: “Iku Kopa Agba, Iku Kopa kekere”. “Iku mata os velhos, Iku Mata os pequenos (crianças)”.
 
À todos que sentiram essa perda, não chorem, pois ele está aos pés de Olodunmare, olhando por nós e dizendo: “Oxente, esse povo não lembra que eu disse que eu não acreditava na morte, que eu sou imortal, parem de bobagem....”.


Baba-mi Àsèsè!!! (Meu pai é minha origem);
Kasun Re-o!!! (descanse em paz);
Baba Ope Laye!!! (Pai, seremos sempre gratos pela sua existência na terra);
Ero O Da Lo eyn-o!!! (Que a passagem lhe traga paz no seu renascimento);
Awa Kasa I Fara E La I Be I Si Bo (Jamais deixaremos de ofertar e rogar em nossos alteres pelo nosso povo);
Omo Jo Baba-o (Os filhos são a imagem do Pai);
Olorun Kosi Pure (Deus Lhe dê o descanso eterno);
Baba-mi Mojuba Yin-oooooooooooooooo
Sem mais,
Opotun Vinicius

23 comentários:

  1. Belo resumo de vida e linda homenagem.... sem palavras...
    Valew mano Opotun Vinicius... como sempre sabendo dar vida as palavras....

    Com certeza Baba Zé Carlos esta muito feliz... e como diz o Tio Wilson.... vida que segue... forte abraço!

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    1. Grande Amigo Dofono,

      Obrigado, acredito que lá do Orun, ele está olhando por nós....

      Abs.
      Vinicius

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  2. Sem palavras diante desse texto tão lindo....estou muito emocionado e triste por não ter conhecido seu Pai...um grande Homem.....força meu irmão!

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    1. Ubiraci,

      Meu Pai foi uma dessas pessoas únicas, que vem ao mundo para deixar uma história e ele o fez. Meu maior orgulho na vida é ser filho dele. Obrigado.

      Abs.
      Vinicius

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  3. Vinicius!
    Ao longo desses anos que me dediquei a conhecer os orixás,pois não vim de uma família de axé,tive a honra de conhecer seu tio Gamo Dapaz,em um momento que estava passando por muitas dificuldades,pronto a ajudar,logo me falou! Vá procurar esse pai,ajuda ele não vai negar.
    Não deu outra,no dia seguinte lá estava eu,quando cheguei senti algo que não sei bem explicar,uma mistura de ansiedade e medo,meu Deus encontrei sua mãe Nalva simples e silenciosa,com doce sorriso,pedindo que esperasse,logo me veio alguém que de longe imaginava ser o que era,vc sabe que quando se trata de um zelador de nome ele logo vem coberto de panos e guias caindo ao pescoço,já vi vários assim,me bastou o sorriso,tudo aquilo passou,um abraço e logo estava ali diante de alguem tão especial de uma sabedoria,que transpassava o olhar foram conversas deliciosas,aprendizado que vou levar sempre pra onde eu for.Já me perguntei pq não o conheci antes pq Oya demorou tanto ? e só o que consigo imaginar é que tudo o que aprendi com ele foi o suficiente pra eu não desistir nem desanimar,não fui filha,nem tive tempo de ser filha de fé,mas aqui dentro, sei que ja tivemos outras passagens,espero rever esse amigo tão querido que tão significante foi pra mim. Abraços

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    1. Morgana,

      O Destino traçou dessa forma, que o seu contato fosse pouco, porém intenso. Fico feliz que o que meu Pai lhe deixou, foi a força de continuar, de não desistir, de seguir em frente. Não tenho dúvidas que ele vai ainda lhe ajudar muito... Saudades...

      Abs.
      Vinicius

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  4. tb estou emocionada com suas palavras,que os orisas lhe deem força e paz para prosseguir e elevar cada vez mais o que seu pai deixou,aseooo

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    1. Silvinha,

      Muito obrigado, estamos sofrendo com a perda irreparável dele, entretanto, com forças para seguir.

      Abs.
      Vinicius

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  5. e LINDO E MARAVILHOSO SABER QUE EXISTIU UMA PESSOA COMO ESSA NUM MUNDO TAO CONTURBADO E DISPROVIDO DE FE,QUE OS IRMAOS DE LUZ ESTEJA COM ESSE GRANDE SER HUMANO NA ESPIRITUALIDADE HOJE E SEMPRE..
    MUINTA PAZ IRMAO...A BAHIA TI AGRADECE POR TUDO QUE FEZ E CONTINUARA FAZENDO PELAS CRIANCAS ADULTOS VELHOS JOVENS......

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    1. Garbage,

      Muito obrigado pelas palavras, em verdade, você falou muito bem: Meu Pai foi e é um homem de luz..... Espero que, no dia em que eu o encontrar no Orun, ele olhe para mim e diga, você seguiu os meus passos....

      Abs.
      Vinicius

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  6. Meu caro conheci seu velho pai, pena que na quela época eu era muito jovem e não
    aproveitei muito sua sabedoria... vendo suas postagens chamou minha atenção!!
    e só reforça tudo aquilo que acredito e preso espiritualmente um filho demostra seu amor tal quanto vc demostra o seu, isso é lindo!!
    são poucos que respeitam e demostram aos seu velhos esse tipo de sentimento só prova o HOMEM MARAVILHOSO QUE ELE FOI
    plantou bons frutos meus respeitos á vc e sua família

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    1. Soraiya

      Não poderia ser diferente, não há como não ter orgulho, como não ter amor de um Pai como ele. Um antigo provérbio Yoruba diz: “Saiba o nome de seus Pais, avós e bisavós.... Para saber dar nome aos seus filhos, netos e bisnetos”... Se depender de mim, e da minha irmã Gabriela, o nome, legado e história do nosso Pai sempre será lembrado... Muito obrigado...

      Abs.
      Vinicius

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  7. Impossível não se emocionar ao ler esse texto.

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  8. Emocionante Vinícius! As divindades sabem o quefazem. E fizeram você traduzir o sentimento de um filho porum pai! Ibae bae! Alafia sempre!!

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  9. Soube hoje, e custo a acreditar.
    Estou triste sim, mais a vida continua
    Saudades mata a gente devagarinho......

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    1. Jô de Ogun

      Infelizmente é verdade, mas Olodunmare sabe o que faz....

      Abs.
      Vinicius

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  10. Sou capaz de sentir na leitura a emoção nas escritas,parabéns por ter sido merecedor de ter o pai que teve e ser um filho que reconhece seu trabalho, sou de Ibualamo também e tenho muito orgulho de meu pai, somos pessoas agregadoras mesmo, teimosas rsrsrs perdi meu pai também 30/05/2011 ele era um homem do Oguian, até hoje sinto muita falta dele,a uma semana atrás fui acomedida de um choro longo e saudoso, mas fui feliz também por te-lo,sei o que voces estão sentindo, recebam meus sinceros sentimentos e muita força para todos do Ylê.

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    1. Neia,

      Sou muito feliz por ser filho dele, que foi muito mais que um Pai em minha vida.... Poxa, lamento sua perda, você bem sabe como é triste a perda de um Pai. Essas emoções sempre estão em nós, todos os dias, as vezes elas resolver sair da nossa alma, por meio das lágrimas...... Obrigado!!!

      Abs.,
      Vinicius

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  11. Obashanan,

    Meu nobre, só tentei, resumi ao extremo um pouco da linda trajetória do meu Pai. Um forte abraços.

    Vinicius

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  12. Meu velho, meus respeitos.

    Acabo de saber do passamento de seu Pai, e fico muito triste e chocado com a notícia. Ainda recordo daquele dia em que nos recebeu no seu Axé, para uma rabada deliciosa.
    Olorum e Odé estejam ao lado dele.
    Meus sentimentos a toda a família.
    Obàtundè. Mairiporã - SP

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  13. PS: somos os padres que visitaram o Axé e almoçamos juntos uma deliciosa rabada. Naquele dia, seu saudoso pai, me mostrou um diploma de congregado mariano que ele tinha em casa. Guardarei para sempre a lembrança de ter passeado com ele nos jardins do Axé e ter visto o lindo Iroko cheio de brinquedos pendurados.
    Um fotte abraço e conte com nossa oração amiga e carinho pelo vosso pai.

    Alexandre Obàtundè e Quintino de Oxalá.

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    1. Obatunde e Quintino, bom dia!

      Mojubase Mojuba,

      Infelizmente ele não está mais fisicamente entre nós... Recordo-me bem daquele dia, lembro quando vocês chegaram à roça (os Padres). Ele gostava muito disso, de visitas, de mostrar o terreiro, as árvores, enfim essa era a vida dele.... O diploma continua em casa e, não tenha dúvidas, será guardado para a posteridade... Apesar da dor de não mais poder vê-lo, tenho o conforto da nossa religião, que prega que a morte não existe e que, certamente hoje, ele está em meio aos seus e aos pés de Olodunmare.

      Abs.
      Vinicius

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